© 2013 sergio

A IMAGEM E O CONTROLE PANÓPTICO DA PUBLICIDADE

Convém ressaltar que os meios técnicos ampliaram a escala da comunicação humana, uma  vez que permitem a transmissão do código não somente pelo discurso verbal, mas também, pela utilização da imagem. Assim, a apreensão do real verifica-se por meio do olhar  publicitário que direciona as escolhas de um indivíduo silenciado por um sistema simbólico,  que confirma a ideologia vigente, ou seja, de um lado o dominante e de outro o dominado. A sustentabilidade das relações sociais, a partir dos códigos operacionais da economia de  mercado disseminados e traduzidos pela indústria cultural, mostra que a publicidade  operacionaliza a socialização imposta pelo mundo capitalista, uma vez que gera o simulacro do desejo consumista. A linguagem da felicidade abordada pela publicidade direciona o  fortalecimento do controle panóptico2 da propaganda e, visto que retém o olhar do outro  através da cópia do real. Como conseqüência, a propaganda estimula o homem a buscar a  satisfação do “status de imitação” do valor de verdade artificial que o insere na busca da realização pessoal e profissional. A construção da identidade humana delineia-se à margem do pseudo-acontecimento publicitário. Dessa maneira, o homem do século XXI configura-se  como sujeito consumidor perturbado por uma identidade narcisista, que revela a sua fragilidade existencial de um ser humano capaz de assumir a forma multifacetada dentro da imediatez de uma relação entre a mídia publicitária e a formação da “marca” propagandística pautadas pelo discurso persuasivo. O homem, portanto é feito à imagem e semelhança da linguagem publicitária, ou seja, somos o que possuímos e o que falamos e nada mais. Essa ideologia materialista acaba por marginalizar, infelizmente, a essência humana que se encontra aprisionada pelo mundo do “faz de conta”. O discurso publicitário encontra-se marcado por uma linguagem altamente persuasiva e sedutora que dissemina uma mensagem baseada na busca frenética pela juventude, progresso, abundância, renovação e aceitação pelo outro. Como na propaganda, manipula os recursos estilísticos e argumentativos, possibilita edificar um mundo ideal definido pela perfeição e pela normalização do prazer compulsivo e efêmero. Os valores éticos e morais são construídos linguisticamente por meio do discurso publicitário que legitima e externaliza as representações sociais pautadas na generalidade de estereótipos. Como conseqüência, o receptor encontra-se fascinado pelo impacto propagandístico devido a seu caráter psicológico, social e econômico.Assim as escolhas lexicais, fraseológicas e linguísticas auxiliam a propaganda no que se refere a sua rápida disseminação e fixação por um público convencido pela aparência. Os apelos e a utilização das formas fixas pela publicidade garantem o não questionamento da “verdade consagrada” pelos anúncios repletos de imperativos, eufemismos, ambiguidade, repetição, adjetivos, verbos, operadores argumentativos e outros recursos estilísticos e morfossintáticos. A natureza da imagem molda-se sócio-culturalmente, e também, psicologicamente, pois a indústria publicitária aproveita-se do conteúdo afetivo e emocional das palavras para concretizar eficazmente a codificação e interpretação da sua mensagem. Dessa forma, o aspecto linguístico aparece na publicidade, a fim de ser associado à memória do indivíduo para motivá-lo subjetivamente e objetivamente a concretizar a compra. A capacidade de absorção e entendimento por parte do receptor subordina-se a coerência,coesão, situacionalidade e informatividade da peça publicitária. Portanto, a produção do discurso propagandístico implica mecanismos materiais (língua), institucionais (sociedade) e do campo imaginário (memória coletiva e individual). A retórica da propaganda alicerça-se na modalização dos efeitos de sentido com a finalidade de estabelecer vínculos com o indivíduodentro de um espaço/tempo familiar, estratégico e difusor do desejo que o modaliza em seu ser e fazer. Os arranjos sintagmáticos e paradigmáticos permeiam os efeitos afetivos e “passionais” sugeridos pela linguagem publicitária que podem ser reconhecidos como medo, ambição, amor, necessidade, auto-afirmação. Desta forma, o homem projeta seus anseios de crescimento pessoal e profissional no objeto adquirido, ou seja, na exaltação da satisfação externa do ego. A figurativização do objeto pela imagem propagandístico garante a sua inserção no mundo cotidiano pelo seu entrelaçamento com o texto verbal. Dessa maneira, a ilustração torna o produto emblemático, já que captura o instante e o reconstrói com requintes de artificialidade e sedução. A apresentação do produto ao consumidor pela imagem tem por finalidade despertar a motivação do indivíduo para a compra, e também, delimitar a sua preferência por determinadas marcas e não outras. Como conseqüência, a aquisição do produto vincula-se às necessidades, às crenças e aos desejos individuais profetizados e ancorados pela imagem. A imagem encontra-se domesticada por regras e padrões da indústria publicitária que lhe conferem um caráter de imitação da realidade sob a perspectiva de um emissor, no caso o publicitário, que almeja que o receptor por meio da percepção estabeleça uma relação afetiva e duradoura com a marca. Dentro do narcisismo social, onde o fato constrói-se pelo discurso e pela imagem que o enunciam, a televisão colabora para a transmissão da mensagem publicitária através da democratização da cultura de massa para a massa. Essa afinidade entre mídia e propaganda possibilita a manutenção das formas de dominação comportamental e ideológica, pois confere ao homem a categoria de “coisa que consome”.