Ana Margarida Campello, uma respeitável educadora escreveu em um de seus artigos acadêmicos que a dualidade estrutural da escola expressa uma fragmentação do ensino. Tomando como base este texto coadulo com ela e de onde eu estou, observo perplexo esta ilusão ideológica da unidade da escola e da existência de um tipo único de escolaridade. Uma dualidade educacional, diria. Ainda que lineares no conceito são apócrifas nos sentidos. Dicotômicos, sabe-se lá. Para essa teoria, a escola não é única, nem unificadora, mas constituída pela unidade contraditória de duas redes de escolarização. O dualismo da escola no modo capitalista de produção se manifesta como resultado de mecanismos internos, pedagógicos, da dualidade estrutural característica da escola capitalista que são inerentes ao seu modelo de sua imperceptível exclusão acadêmica. Digo, a repetência, o abandono, a produção do retardo escolar são mecanismos de funcionamento da escola e que fazem parte de suas características. É sua função discriminar, e isto desde o início da escolarização, na própria escola primária, que também não é única e que também divide.
Brasileiros são assim, criam diferenciação para não desnudar os dispositivos ideológicos dos oligopólios educacionais ou dos matreiros interesses de governo – seja pela oferta de escolas de formação profissional e escolas de formação acadêmica para o atendimento de populações com diferentes origens e destinação social. Durante muito tempo o atual ensino médio ficou restrito àqueles que prosseguiriam seus estudos no nível superior, enquanto a educação profissional era destinada aos órfãos e desvalidos, os ‘desfavorecidos da fortuna’.
A análise do fluxo escolar, no Brasil, neste início de século XXI, aponta para a expulsão da escola de uma imensa parcela da população: apesar da quase universalização do acesso a 1ª série do Ensino Fundamental, apenas 45% dos jovens brasileiros concluem o Ensino Médio. Percebe-se claramente a constituição de dois grupos: aqueles que permanecem no interior da escola e os que dela vão sendo excluídos. Entre os que permanecem, uma nova diferenciação se produz pela desigualdade das condições de escolarização e pela precarização dos programas pedagógicos que conduzem a uma certificação desqualificada, para ‘uns e não outros’.
É possível superar a dualidade da educação na sociedade capitalista, ou a “unitariedade inscreve-se no campo da utopia a ser construída através da superação do capitalismo”?
É preciso, ao reconhecer que a escola contribui para a reprodução das classes sociais e ressalta a contradição como aspecto fundamental do dinamismo histórico. Se por um lado a escola reproduz (os valores dominantes da exploração e do poder), por outro alimenta o movimento de superação do estado de coisas existente.
Educadores são bifurcados
Ora, esta leitura, pregressa ao entendimento da formação escolar nada tem haver com as formas em que a educação por aqui se enraizou…mas sim, pelo complexo descumprimento da ordem natural do ensino em todas as sua etapas de formação do indivíduo.
Questão de valor ou do valor?
© 2015 sergio